terça-feira, 19 de agosto de 2014

Chrônica de ninar

 Do alto da inércia que me paira,
assisto sentada ao deslizar de meu corpo
sobre a lâmina brilhante de um punhal.
Insistente sou em vagar
nas horas tardas.
Sinto trêmulos ponteiros a fragmentar
as linhas certamente finitas
de minha ímpar existência.

Divagando observo aos furtos
que o destino lança contra
a tênue linha que me tece.
E assim, a cada dia, encontro minúsculas
elipses que tramam minha composição.
Um dia serão tantas que me tornarão opaca.

Esse processo de desmanche
já me é dado a conhecer desde tenra idade,
pois que vejo o chronos a devorar-me,
mesmo antes de dar meus primeiros passos.
Porém, engano do voraz que pensa
findar minha essência na matéria.
Não sabe ele que sou imortal.

Lorena Barreto

(29/04/2014)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Mistério de morte

Há muito esqueci quem eu sou
Hoje sou o que era
Ontem eu era alguém inexistente
O que sou estava escondido
Ah, como eu queria ser realmente
Aquele ser inexistente
Que hoje vai aos poucos esmaecendo.

Lorena Barreto

Escrito em 2010

domingo, 6 de abril de 2014

Missiva do Céu

Observe os leves passos sobre a grama
Acompanhados do frenético pulsar de um coração
Tomado por sonhos
E cheio de fôlego.

Quem vê tal criatura se pergunta
Como pode um ser tão forte
Ser tão delicado como um diamante?
Bruto brilho que reflete o sorriso cortante.

Olhar denso que pede para ser decifrado
Linhas ternas de uma face aveludada.
Mãos que tecem seus próprios segredos
E os guarda em seus mais profundos anseios

Oh, da tua força jovial cantes a doçura.
Terrena existência cheia de graça,
te escondes atrás de rija postura,
mas teus olhos não disfarçam.
Eles revelam tua essência.

Com tal incandescência cativas os que em ti
fixam o olhar, mudos muitos ficam,
sem saber o que falar.
Mas graças à existência dos poemas
que permitem expressar
o indizível que só os artífices das palavras podem contar.



Lorena Barreto 06/04/2014

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Ilusão de Ótica

Tal qual cena - fulgor
foi quando conheci tua graça.
De tal forma teu olhar
penetrou no meu
que desde então
habitas nesta singela
casa.

Ah, já não é possível enxergar nada
além de ti,
mesmo que a mim não vejas.
E, talvez, em sua essência
é dado a conhecer que és
alvo da paixão
que te dedico.

Vou me manter atado à esperança de
(quem sabe um dia...)
habitar em você.

Lorena Barreto 03/04/2014

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